30/11/2011

1994, DOM ALOISIO LORSCHEIDER É FEITO REFÉM NO IPPS

Antônio Carlos Barbosa, o Carioca, imobiliza dom Aloísio Lorscheider. Foto do Diário ganhou o prêmio Esso

Às 9 horas de 15 de março de 1994, dom Aloísio Lorscheider, e cerca de 20 integrantes do movimento de Direitos Humanos, iniciou uma visita pastoral ao IPPS. No auditório, Dom Aloísio foi feito refém e se iniciou uma rebelião. A partir daí, o Arcebispo e mais 13 pessoas ficaram mais de 20 horas em poder dos detentos. Os presos saíram do IPPS às 23h15min num furgão e só liberaram os reféns às 06h00 horas da manhã.

A rebelião começou por volta das 10h45min do dia 15. O então coordenador do Sistema Penal do Estado, Raimundo Brandão, falava quando três presos subiram no palco. Com uma faca, “Carioca” imobilizou Dom Aloísio, e os outros dois dominaram os Bispos Auxiliares, Dom Edmilson Cruz e Dom Geraldo Barbosa, e o então vigário Episcopal de Fortaleza, Dom Aldo Pagotto. Brandão também foi imobilizado. Houve troca de tiros, tendo morrido o preso Pedro Cosme Taveira e ficado feridos dois policiais militares, dentre eles, o soldado Demétrio Costa Araújo que foi feito refém. Ficaram feridos também os presos Ivan Carlos Pereira da Silva e João Wilson Guedes Serafim que morreu no IJF.

A negociação iniciou ainda pela manhã com a coordenadora da Pastoral Carcerária, Eunísia Barroso, sendo enviada pelos presos para tentar a abertura dos portões, mas ela não retornou. Depois, enviaram a repórter do Diário do Nordeste, Erilene Firmino, com as exigências, mas ela também não voltou.

Só quando o então governador do Estado, Ciro Gomes, chegou ao IPPS é que as negociações avançaram. Os presos pediam um furgão, 10 rifles e 10 revólveres. No final da noite, o furgão saiu do IPPS com 26 pessoas seguindo para a Ibaretama, onde vivia a família de Roberto Aguiar Muniz, o Betinho Fazendeiro.
A viagem até a Serra, garantem Mário Mamede (na época presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e atual secretário adjunto de Direitos Humanos) e Raimundo Brandão, foi um dos momentos mais difíceis. A estrada escura, a polícia perseguindo o veículo e Betinho dirigindo a toda velocidade. Neste momento, garantem os dois ex-reféns, sentiram a morte perto. “Eu pensei que tinha direito a morrer de uma maneira diferente”, diz Mário.

Já Brandão, chegou a ver seu velório no Parque da Paz, quando ainda no IPPS ouviu o aperto de um gatilho atrás de sua cabeça. Uma imagem inesquecível. Principalmente porque, Brandão a relata no livro “O pastor e os doze reféns”. É nele que conta, por exemplo, que a caçada aos fugitivos levou 10 dias. A “Operação Serra Azul” recapturou 12 fugitivos. Francisco Evandro de Lima Oliveira, o Evandro Baixinho, morreu em troca de tiro com a Polícia e Betinho Fazendeiro foi baleado, morrendo dias depois no IJF.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Deserto: lugar de Deus


Pela importância de tema, seria necessário um trabalho científico, porque é impensável qualquer entendimento nesse campo espiritual, sem uma compreensão, no mínimo básica, do deserto como lugar de Deus. Infelizmente, a falta de um tempo suficiente e, mais ainda, das fontes que são necessárias, não favorece a realização deste ideal. Quando falamos de deserto, vem logo na mente a imagem do Bem aventurado Charles de Foucauld, na sua bela afirmação: “É na solidão, vivendo somente com Deus, no recolhimento profundo da alma que esquece o que existe para viver só em comunhão com Deus, onde Deus se entrega totalmente a quem se abandona totalmente a ele”.

Precisamos de sabedoria para compreender os sinais de Deus. Não podemos também prescindir de um espírito perseverante e ao mesmo tempo corajoso, para entrar na nossa própria humanidade, no sentido de compreendermos as diversas tentativas de fugas do absoluto de Deus, sobretudo, na certeza de que ele é Pai e nos acompanha sempre, por toda parte, mesmo quando tentamos nos distanciar dele (cf. Rm 8, 35-39). Daí é que vem a confiança e a certeza de que ele não se separa de nós; nunca e jamais perde a paciência para conosco.

O deserto deixou em Charles de Foucauld uma marca indelével. Ele dizia: “É necessário passar pelo deserto e nele permanecer para receber a graça de Deus: é no deserto que nos esvaziamos de nos desprendemos de tudo o que não seja de Deus [...].” É por isso mesmo que compreendemos que de sua incredulidade, indiferença, egoísmo e impiedade, caiu nas mãos de Deus. Foi arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, que o tornou o único e o maior tesouro de sua vida. “Se alguém está em Cristo é uma mova criatura. Passaram-se as coisas antigas” (2Cr 5, 17).

Charles de Foucauld nasceu na França e viveu de 1858 a 1916. No dia 30 de outubro de 1886 se submeteu a vontade de Deus, ajoelhando e confessando os seus pecados. Experimentou uma alegria inexprimível, a alegria do Filho pródigo. Foi beatificado no dia 13 de novembro de 2005 pelo Papa Bento XVI.

Seu testemunho e sua mística encantaram os seus seguidores no mundo inteiro, numa grande paixão e fascínio per Jesus de Nazaré, concretizado no amor e na solidariedade para com os que estão longe do convívio social, os empobrecidos e excluídos, buscando na Eucaristia a força necessária para concretizar o projeto de amor do Pai. O Beato Charles de Foucauld, indo habitar e levando a Eucaristia para os irmãos no Deserto do Saara, tornou-se o homem da ternura e da compaixão, com uma enorme vontade de ser amigo de todos, bons e maus, de amar a todos, indistintamente e ser de verdade o irmão universal. Toda sua vida foi um profundo ato de amor: “Tão logo que acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa, senão viver só para ele”.

O caminho da contemplação e da oração torna-se itinerário dos seus seguidores e admiradores. Ele sempre se colocou no último lugar, com sua vida em harmonia com o Evangelho, reservada e discreta, não se esforçando para converter ninguém, mas querendo fazer uma única coisa: “proclamar bem alto o Evangelho com a própria vida”. A vida do Bem aventurado Charles de Foucauld, com seu martírio, no dia 1º de dezembro de 1916, não foi um valor em si mesmo. Mas foi conseqüente, com muitos motivos, ao entrar numa profunda sintonia com o Deus, na coragem do heroísmo profético, chamando nossa atenção para o conflito, porque mergulhar no Evangelho é mergulhar nos conflitos e nas tempestades (cf. Mt 14, 26-32).

O grande mérito do Irmão Charles de Fuocauld foi viver o Evangelho no meio dos conflitos e das tempestades, distanciando-se da “bondade”, como era conhecida no seu tempo. Não se contentando e até se indignando com o anúncio do Evangelho que não satisfaz, não converte e não transforma. Procurou assemelhar-se a Jesus de Nazaré em tudo, sobretudo, na paixão e no calvário. Seu martírio foi conseqüência da sua opção pelo Evangelho e a justiça do Reino.

Charles de Foucauld traçou um caminho para os seus seguidores, propondo-lhes o caminho da cruz e do Evangelho. Portanto, ao ouvir algo do irmão querido, com sua vida e seus escritos, é impossível permanecer na indiferença. Ele nos conduz e nos arrasta ao seguimento de Jesus de Nazaré, seu “bem-amado no Senhor”.

Cristo precisa de nós, não como admiradores, cheios de sentimentos, mas como seguidores. Que a voz profética desse irmão muito querido não cale jamais e que as pessoas de boa vontade se inspirem no Irmão Universal para descobrir o caminho da contemplação e da oração, o caminho de Deus, tão bem percorrido pelo querido irmão Charles de Foucauld, o deserto como lugar sagrado e de Deus.

Bento XVI encontrou-se com os peregrinos na Sala Paulo VI


"Os cristãos são chamados a serem testemunhas de oração, exatamente porque o nosso mundo está muitas vezes fechado ao horizonte divino e à esperança que leva ao encontro com Deus. Na amizade profunda com Jesus e vivendo n'Ele e com Ele a relação filial com o Pai, através da nossa oração fiel e constante, possamos abrir janelas ao Céu de Deus".O Papa Bento XVIabriu uma nova seção no ciclo deCatequeses sobre a oração nesta quarta-feira, 30. Desta vez, Jesus e sua oração estão ao centro das meditações do Pontífice."Ele é o Mestre também do nosso rezar; mais ainda, Ele é o sustento ativo e fraterno de todo o nosso dirigir-se ao Pai", destacou.Acesse.: NA ÍNTEGRA: Catequese de Bento XVI sobre Jesus e oração.: Papa pede eliminação da pena de morte"Também na nossa oração devemos aprender, sempre mais, a entrar nessa história da qual Jesus é o cume, renovar diante de Deus a nossa decisão pessoal de abrirmo-nos à sua vontade, pedir a Ele a força de configurar a nossa vontade à sua, em toda a nossa vida, em obediência ao seu projeto de amor por nós", incentiva o Pontífice.Bento XVI afirma que, olhando para a oração de Jesus, deve surgir também em nós uma pergunta: Como nós rezamos? Qual é o tempo que dedicamos à relação com Deus? Faz-se hoje uma suficiente educação e formação à oração? E quem pode ser o nosso mestre?"Escutar, meditar, ficar em silêncio diante do Senhor que fala é uma arte, que se aprende praticando com constância. Certamente a oração é um dom que requer, todavia, ser acolhido; é obra de Deus, mas exige compromisso e continuidade de nossa parte, sobretudo a continuidade e a constância são importantes. [...] Eduquemo-nos a uma relação com Deus intensa, a uma oração que não seja ocasional, mas constantes, plena de confiança, capaz de iluminar a nossa vida, como ensina-nos Jesus. E peçamos a Ele o poder comunicar às pessoas que nos são próximas, àquelas que encontramos na nossa estrada, a alegria do encontro com o Senhor, luz para a existência", responde.Batismo no JordãoA oração que acontece logo após o Batismo de Jesus por João Batista, no Rio Jordão, foi o tema central desse encontro. "Mas, como nos primeiros cristãos, também em nós brota a pergunta: por que Jesus se submete voluntariamente a este batismo de penitência e de conversão? Ele não tinha pecados, não tinha necessidade de se converter. Portanto, por que este gesto?", indaga o Papa.Ele explica que, com esse gesto, Jesus, sem pecado, "torna visível a sua solidariedade com aqueles que reconhecem os próprios pecados, escolhem arrepender-se e mudar de vida; faz compreender que ser parte do povo de Deus quer dizer entrar em uma ótica de novidade de vida, de vida segundo Deus".O Batismo antecipa a cruz e dá início à atividade do Senhor, que toma o lugar dos pecadores e assume sobres si o peso da culpa de toda a humanidade, cumprindo a vontade do Pai. "Recolhendo-se em oração, Jesus mostra o íntimo vínculo com o Pai que está nos Céus, experimenta a sua paternidade, colhe a beleza exigente do seu amor, e no colóquio com Ele recebe a confirmação da sua missão", destaca. O Bispo de Roma destaca ainda que a existência inteira de Jesus é vivida em uma família profundamente ligada à tradição religiosa do povo de Israel, como mostram as referências encontradas nos Evangelhos. Assim, saído das águas do Jordão, "Jesus não inaugura a sua oração, mas continua a sua relação constante, habitual com o Pai; e é nessa união íntima com Ele que realiza a passagem da vida escondida em Nazaré ao seu ministério público", explica.Na narração evangélica, as ambientações da oração de Jesus colocam-se sempre no cruzamento entre a inserção na tradição do seu povo e a novidade de uma relação pessoal única com Deus. "Na oração, Jesus vive um ininterrupto contato com o Pai para realizar até o fim o projeto de amor para os homens", ressalta Bento XVI.A audiênciaO encontro do Santo Padre com os cerca de 8 mil fiéis reunidos na Sala Paulo VI, no Vaticano, aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 7h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da "Escola de Oração", iniciada pelo Papa na Catequese de 4 de maio. A seção dedicada ao Saltério,iniciada em 7 de setembro, chegou ao fim na quarta-feira, 16 de novembro.Ao final da audiência, o Papa lançou um apelo pela eliminação da pena de morte.Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:"Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente os brasileiros vindos de Lorena e de Curitiba, a quem desejo uma prática de oração constante e cheia de confiança para poderdes comunicar a todos quantos vivem ao vosso redor a alegria do encontro com o Senhor, luz para as nossas vidas! E que Ele vos abençoe a vós e às vossas famílias!".



Leonardo Meira/Canção Nova Noticias/AP

O SENHOR VEM!


Meditação sobre a Palavra de Deus

I DOMINGO DO ADVENTO – 27.11.2011



+ Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília

A Liturgia da Palavra nos motiva a viver o Tempo do Advento, o tempo de preparação para a solenidade do Natal de Jesus, que estamos iniciando neste domingo. O Evangelho proclamado nos transmite a certeza de que o Senhor vem, mostrando-nos o que fazer. É preciso estar preparados e atentos para o encontro com o Senhor, pois não se sabe quando ele virá. Não há como preparar-se de última hora. A atitude proposta é a vigilância, ao contrário de estar “dormindo”, acomodado. “Cuidado! Ficai atentos”, diz Jesus aos seus discípulos (Mt 13,33). São diversos os motivos pelos quais devemos cultivar a vigilância, neste Advento. É preciso preparar-se para acolher Jesus, de modo renovado, no Natal, assim como, para o encontro último e definitivo com Cristo. Este tempo de espera está marcado pela feliz expectativa da vinda do Senhor. É tempo de conversão simbolizada pela cor litúrgica roxa, utilizada na Igreja durante este período. Devemos preparar a nossa “casa” para acolher Jesus com grande empenho. O modo como iremos celebrar e viver o Natal dependerá muito da maneira como vivemos este Tempo do Advento. Um feliz Natal, como sempre desejamos a todos, dependerá de um Advento vivido de modo frutuoso e, por isso, feliz. Nesta perspectiva de espera marcada pela conversão está a profecia de Isaías. Em sua oração, o profeta reconhece os pecados cometidos pelo povo e invoca a Deus como pai” e “redentor” (63,16), recordando que somos o “barro” nas mãos do “oleiro”, que é Senhor (64,7).

 A vigilância exige o nosso compromisso e a confiança na graça de Deus. São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, afirma que é Deus quem “dará a perseverança” numa vida cristã irrepreensível “até o fim, até o dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1,8). Por isso, rezamos, hoje, o Salmo 79 suplicando confiantes: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos, para que sejamos salvos!”

Estamos vivenciando a Campanha para a Evangelização, promovida em toda a Igreja no Brasil, motivando-nos a assumir com responsabilidade a missão evangelizadora da Igreja. Rezemos para que a evangelização seja cada vez mais frutuosa em nosso meio. Procuremos também participar das iniciativas pastorais da Igreja, que necessita de discípulos missionários dispostos a evangelizar pelo anúncio e pelo testemunho de vida. Vamos colaborar para que uma nova evangelização aconteça entre nós, renovando a nossa disposição de seguir a Jesus, de participar da comunidade, testemunhar a fé e colaborar na construção da justiça e da paz em nosso mundo. Um gesto concreto, proposto a cada ano, é a Coleta para a Evangelização, a ser realizada no próximo dia 11 de dezembro, como expressão de comunhão e de partilha, destinada à promoção e à manutenção da ação evangelizadora na Arquidiocese e em todo o Brasil.

A Coroa do Advento


Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald - Redentorista
Cada ano, no tempo do Advento, a Igreja Católica apresenta a “Coroa do Advento”. A coroa é feita com ramos verdes, frequentemente, enfeitada com fitas coloridas e lugares para quatro velas, todos no mesmo nível. No primeiro domingo do Advento uma vela amarela é acesa recordando o profeta Isaías anunciando a salvação e a vinda do Messias por volta do ano 500 a.C. É uma luz pálida (amarela) porque a salvação é ainda distante.
No segundo Domingo uma vela vermelha é acesa recordando o precursor de Jesus, São João Batista, testemunhando que a chegada do Salvador está próxima. A vela é vermelha indicando o martírio de São João Batista. No terceiro domingo uma vela rosa ou roxa é colocada na Coroa, indicando Maria, a bem-aventurada, trazendo o próprio Salvador e a alegria da salvação. No quarto domingo uma vela verde é colocada na Coroa, indicando Jesus, trazendo a alegria da salvação. “Verde da árvore da vida, broto da raiz de Jessé”.
Na missa do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo uma vela branca é colocada na Coroa um pouco mais alto do que as outras quatro velas indicando a chegada de Jesus, a luz do mundo. Deus nasce no meio de nós, feito homem como nós. Traz consigo a plenitude da divindade. As quatro velas da Coroa do Advento retomam o costume judaico de celebrar a vida da luz na humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais.
Em cada domingo, então, se acende uma vela. Ela poderá ser trazida na procissão de entrada da seguinte maneira: a cruz processional, a Vela do Advento, a Bíblia (ou Lecionário), de onde será proclamadas as leituras. No momento da aclamação do Evangelho, um coroinha vai acender solenamente a vela. A pessoa que acender a vela deve permanecer junto à mesa da Palavra de onde é proclamado o Evangelho. Terminada a proclamação, quem preside coloca a vela na Coroa do Advento.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista

Denúncia de «crimes de guerra contra minorias étnicas»

Enquanto a secretário de estado norte-americano, Hillary Clinton, se prepara para visitar a Birmânia, duas organizações não-governamentais – a “Partners” e a “Christian Solidarity Worldwide” (CSW)  - apresentaram em Banguecoque um novo relatório intitulado “Crimes no norte da Birmânia”. O documento de 60 páginas foi preparado depois de missões de investigação terem recolhido testemunhos directos nas áreas do conflito. Contém textos, testemunhos pessoais e fotografias que provam as atrocidades que são cometidas na guerra civil em curso.

Desde 9 de Junho último, foram retomadas no estado Kachin, norte da Birmânia, violentas hostilidades entre o exército birmanês e o Exército Independente Kachin. Os membros das duas organizações estiveram na zona do conflito e recolheram testemunhos de assassinatos, disparos sobre civis, utilização de escudos humanos, prisões e detenções ilegais, deslocações e trabalhos forçados, furto e destruição de propriedade. “Enquanto se fala de reformas políticas, a situação das minorias étnicas é a pior desde há décadas com abusos que violam o direito internacional e humanitário”.  Já fugiram do conflito mais de 30 mil civis.

A organização Partners convida a secretário de estado Hillary Clinton a promover um cessar-fogo imediato, acompanhado de reformas políticas. A outra organização, Christian Solidarity Worldwide, escreveu uma carta aberta a Hillary Clinton solicitando que “o regime cesse de atacar as minorias étnicas, a declarar um cessar-fogo a nível nacional, a libertar os prisioneiros políticos, a empenhar-se num processo significativo de diálogo com as minorias étnicas e o movimento democrático di Aung San Suu Kyi”. A organização denuncia “graves e constantes abusos dos direitos humanos cometidos pelo exército birmanês nas áreas étnicas e, em particular, no estado Kachin”. Condena a violação da liberdade religiosa com “ataques a pastores cristãos, sacerdotes e igrejas do estado de Kachin, a discriminação dos povos muçulmanos Rohingya e o arrastar-se da detenção de monges budistas”.

Código Florestal: sacrificar a vida em favor de lucros para poucos?

Ivo Poletto
Assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, de Pastorais e Movimentos Sociais
Adital
As companheiras e companheiros de movimentos, entidades e pastorais sociais lembram que eu não alimentei nenhuma ilusão sobre o tipo de Código Florestal que seria aprovado pelo Congresso Nacional. Nele, os deputados e senadores que não têm interesses diretos em relação ao cancelamento das dívidas com a população geradas a partir de crimes ambientais, bem como com uma flexibilização das leis existentes que beira a libertinagem, está comprometido com estes poderosos privilegiados. Há exceções, sempre honrosas, mas constituem minoria preocupante. Onde estariam os e as que foram votados por defenderem propostas de esquerda, em favor de uma sociedade realmente justa e igualitária? Por que, de repente e sem consultar seus eleitores, se tornaram defensores de mudanças que beneficiam minorias?
O que dizer dos deputados e senadores que aprovaram esse tipo absurdo de Código, que mantém o apelido deflorestalmas é, na realidade, instrumento legalizador da sanha predadora da biodiversidade? Que pensaram no futuro, quando está escandalosamente evidente que se aprisionaram cegamente ao passado e ao presente? Ou melhor, que abriram portas para um futuro com menos florestas, menos matas ciliares, com nada de mangues, com mais áreas desertificadas por causa da morte dos solos provocada pelo agronegócio, pela agroindústria e pela mineração exportadores de commodities?
Com bem definiu um analista: em lugar de um Código florestal, o Brasil terá um Código agrícola - ou agropecuário e minerário, acrescento eu. Como fruto, aumentará a concentração de terra e de riqueza em poucas mãos proprietárias, aumentará o envenenamento dos solos, subsolos e atmosfera, a Amazônia ficará mais nua e com entranhas rasgadas - e mais coberta por lagos artificiais, geradores de pouca energia elétrica para a mineração, muito metano para a atmosfera e mais miséria para os povos ribeirinhos e para os que para lá se transferirão como operários das grandes barragens...
Uma vez mais, a pergunta que se impõe: o que podemos fazer nós, que vivemos na planície ou nas profundezas em que ficam os cidadãos sem cargos eletivos, que não são representantes do povo? Em relação ao que se conhece como democracia representativa, ainda temos uma chance: propor, insistir, exigir que a Presidente Dilma se negue de referendar o jogo de interesses presentes no que apenas tem o título de código florestal. Podemos exigir dela como Chefe de Governo, pois ela foi eleita para governar em favor dos direitos de todos os brasileiros e brasileiras, e não para um pequeno grupo de proprietários e seus capachos. E podemos igualmente exigir dela que atue como Chefe de Estado, eleita para cuidar de tudo que constitui a Nação Brasileira, de modo especial defendendo o seu povo contra o uso do poder delegado para impor leis em favor de minorias, para legislar em causa própria e para impedir que se consulte toda a cidadania na hora de aprovar mudanças de leis que dizem respeito às condições de vida de todas as pessoas, de todos os seres vivos e de toda a Terra.
Será que a presidente Dilma ouvirá os apelos da cidadania? Pode até ouvir, mas por causa do cálculo político de quem decidiu governar através de acordos partidários-parlamentares, é praticamente certo que cederá às pressões dos interessados no novo código florestal. E aí, o que nos resta? Segundo a Constituição, podemos exigir um Referendo, isto é, uma consulta a toda a cidadania para que ela decida se aceita este novo código, ou se prefere que se fique com o existente até que se elabore uma proposta de código que defenda, de fato, todas as formas de vida. A cidadania - o nós constituído por todos os eleitores - tem, sim, o poder de derrubar uma decisão do Congresso como essa do Código, mesmo depois de sancionada pela Presidente da República. A cidadania é o poder soberano, e suas decisões expressam a soberania popular.
O que fazer? Será preciso aprofundar o diálogo entre todas as forças que fizeram de tudo para demonstrar que esse novo código será prejudicial para o Brasil e para toda a humanidade, sem ter conseguido vencer os falsos argumentos dos grupos interessados em sua aprovação. Se a decisão for a de mobilizar a cidadania em favor de um Referendo, haverá necessidade de mobilização de muitos milhões, já que a proposta deverá ser aceita pelo Congresso - pois os representantesque o compõemreservaram para si esta decisão, subordinando o poder soberano ao seu poder delegado. Mesmo assim, nem que seja para tornar pública a denúncia da antidemocracia praticada por esta decisão, sou favorável à consulta à cidadania.
E você, o que sugere?

Nesse Natal plante uma árvore e cultive o futuro!



 Quem não tem saudade de subir no pé de uma árvore, de se balançar num balanço preso em seus galhos, de pegar a fruta no pé ou de aproveitar a sua sombra num dia de muito calor? Bons momentos das nossas vidas foram feitos perto de árvores. Algumas pessoas lembram desses momentos no quintal da casa dos pais, ou da casa dos avós ou naquele sítio no interior... Mas por que manter o contato com as árvores apenas na nossa memória? É possível trazê-las para perto e usufruir de seus benefícios, seja no quintal de casa, no jardim do seu edifício ou na praça mais próxima. 
Assim como as áreas verdes são locais raros nos grandes centros urbanos, os locais que vendem mudas de árvores a baixo custo também são. Mas nesse natal você pode ajudar a cidade a se tornar mais verde e ainda reduzir o lixo urbano. Essa é a proposta do Natal de Luz da cidade de Fortaleza realizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas. Este ano a Associação Caatinga é parceira desta iniciativa e está produzindo 20 mil mudas de árvores nativas da Caatinga que, junto com outras frutíferas, serão distribuídas na cidade de Fortaleza no mês de dezembro.
Cada muda é trocada por uma garrafa PET em diferentes pontos de troca na cidade. Há cinco anos o Ceará Natal de Luz está engajado em defesa ao meio ambiente Desde 2007 já foram trocadas por PET 600 mil mudas. Para 2011, a meta é mais de 100 mil mudas entre frutíferas, ornamentais e nativas da caatinga, com isso, alcançando um total de 700 mil, desde 2007.
Os postos de troca estarão em pontos estratégicos de Fortaleza como Praça do Ferreira, Avenida Beira Mar e Shoppings credenciados. As espécies nativas da caatinga distribuídas são o angico, a aroeira, o ipê roxo (pau d’arco roxo) e o jucá. A aroeira é usada para diversos produtos de beleza, principalmente para o tratamento de espinhas e o ipê roxo devido a sua floração ser bastante intensa, ele é usado para ornamentar praças, parques e pode chegar aos 12 metros de altura. 
Pontos de troca  01- Praça do Ferreira          
02- Avenida Beira Mar    03- Praça Jose de Alencar 04- Shopping Pátio Água Fria                              05- Shopping Aldeota 06- Shopping Benfica07- North Shopping 
08- Pinheiro supermercados (loja da Avenida Godofredo Maciel) 
09- Loja Acal (Avenida Duque de Caxias)
Serviço
Ceará Natal de Luz 2011 
Data: 25 de novembro a 23 de dezembro. 
Telefone: (85) 3464.5538 
Mais informações sobre as mudas: Maria da Penha Gonçalves - Coordenadora de Restauração Florestal Associação Caatinga Fone/Fax: (85) 3241-0759mariadapenha@acaatinga.org.brwww.acaatinga.org.br
Com informações Assessoria de Imprensa da Associação Caatinga
Sugestão de pauta: Agência da Boa Notícia – (fone: 85 3224 5509)
 

Advento nas comunidades

Dom Genival Saraiva

Bispo de Palmares - PE

A liturgia católica introduz e acompanha os fiéis na celebração do mistério de Cristo que é vivenciado, ao longo do Ano Litúrgico. Na sua sábia pedagogia, a liturgia faz o percurso da vida natural e divina de Jesus. Daí iniciar-se o Ano Litúrgico, precisamente, com o Ciclo do Natal, que compreende o período do Advento e o tempo de Natal que inclui a Epifania (Festa dos Reis Magos) e a celebração do Batismo de Jesus. Dessa maneira, constituem traços da vida humana de Jesus a sua viagem de Nazaré a Belém, no ventre de Maria, seu nascimento, sua apresentação ao Senhor no templo de Jerusalém, a visita dos Reis do Oriente, a perseguição de Herodes, o infanticídio de inocentes (Santos Inocentes) e a fuga para o Egito; na verdade, a liturgia celebra a face humano-divina de Cristo, no mistério do Natal.
Na teologia cristã, o ponto de referência do mistério celebrado é a Páscoa, a Ressurreição de Jesus. São Paulo tinha plena certeza da centralidade do mistério pascal: “E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé. E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados.” (1Cor 15,14.17) A Páscoa também é vivenciada, liturgicamente, com seu momento de preparação, a Quaresma, e na sua expressão maior, a celebração do Tríduo Pascal e do tempo da Páscoa. A vida natural do Cristo adulto e a condição divina do Cristo missionário do Pai são celebradas no mistério da Páscoa. Com a celebração de Pentecostes, a liturgia celebra o mistério de Cristo, com a significação que tem para a Igreja, na sua trajetória peregrina. Cada tempo litúrgico tem um perfil próprio, por seu significado, seu fundamento bíblico, sua espiritualidade e sua linguagem pastoral.
Essas notas distintivas são muito visíveis no Ciclo do Natal, a começar pelo significado do Advento: “Advento é tempo de espera d’Aquele que há de vir. Pelo Advento nos preparamos para celebrar o Senhor que veio, que vem e que virá; sua liturgia conduz a celebrar as duas vindas de Cristo: Natal e Parusia. Na primeira, celebra-se a manifestação de Deus experimentada há mais de dois mil anos com o nascimento de Jesus, e na segunda, a sua desejada manifestação no final dos tempos, quando Cristo vier em sua glória.” O Advento tem um rosto especial também em razão do que revela a Sagrada Escritura: o Messias prometido, concebido no seio de uma virgem (cf. Is 7,14), segundo a profecia (cf. Mq 5, 1), nasce em Belém (cf. Lc 2, 1-20). A espiritualidade do Advento na Igreja Católica fala “sobre a vinda hoje do Senhor em nossas vidas. Por isso, seria muito importante termos algumas atitudes neste tempo: Atitude de ESPERA: Alegre chegada e amorosa acolhida. (...). Atitude de RENOVAÇÃO: O Advento é tempo de conversão e penitência. (...). Atitude de ORAÇÃO: A oração é elemento primordial da espiritualidade cristã. (...). Atitude de CARIDADE FRATERNA: A caridade é a essência do nosso ser e agir cristão.” A linguagem pastoral do Advento está muito presente nas comunidades e se expressa de muitas maneiras; sem dúvida, no Brasil, destaca-se uma que é praticada pelos católicos, há muitos anos: a Novena do Natal. As famílias se encontram para a oração em comum, para a reflexão, a partilha da Palavra de Deus, o olhar sobre fatos vividos por pessoas e comunidades e para o testemunho da fraternidade, através de gestos de solidariedade.
Quando bem celebrado nas comunidades, o Advento é certeza de um Natal bem vivido nas famílias

Papa Bento XVI faz nomeações para a Igreja no Brasil



O papa Bento XVI acolheu nesta quarta-feira, 30 de novembro, o pedido de renúncia do arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi, por razão de idade, 75 anos, em conformidade com o cânon 401.1 do Código de Direito Canônico. Foi nomeado para sucedê-lo, dom Esmeraldo Barreto de Farias, 62, que foi transferido da diocese de Santarém (PA).
Também nesta quarta-feira foi aceito, por limite de idade, o pedido de renúncia de dom Alano Maria Pena, bispo de Niterói (RJ). Dom José Francisco Rezende Dias, 55, foi transferido da diocese de Duque de Caxias (RJ) para sucedê-lo.
Dom Esmeraldo
O novo arcebispo de Porto Velho (RO) nasceu no dia 4 de julho de 1949. Ele é natural de Santo Antônio de Jesus (BA). Foi ordenado presbítero em 9 de janeiro de 1977 em sua cidade natal. Sua nomeação episcopal aconteceu em 22 de março de 2000. Estava na diocese de Santarém (PA) desde 2007.
CNBB
Seus estudos filosóficos foram concluídos na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Teologia no Instituto de Teologia da Universidade Católica de Salvador.
Dom Esmeraldo já foi bispo de Paulo Afonso (BA) de 2000 até 2007; no último quadriênio, de 2007 a 2011 foi presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Seu lema episcopal é “Levanta-te e anda” (At 3, 6).
Dom José Francisco Rezende
É mineiro de Brasópolis. Nasceu no dia 2 de abril de 1956. Foi ordenado sacerdote em 10 de novembro de 1979 e nomeado bispo em 28 de março de 2001. Sua ordenação episcopal aconteceu em junho do mesmo ano e logo assumiu a função de bispo auxiliar de Pouso Alegre (MG) onde ficou até 2005. Em seguida foi nomeado para a diocese de Duque de Caxias onde estava até hoje.
Formou-se tem filosofia em Pouso Alegre e Teologia em Taubaté (SP). É especialista em Teologia Espiritual pelo Pontifício Instituto Teresianum de Roma (1987-1989). Seu lema episcopal é “Vivamos por Ele”. (I Jo 4, 9).

29/11/2011

O irmão universal, Charles de Foucauld

       Da incredulidade, indiferença, egoísmo e impiedade, caiu nas mãos de Deus. Foi arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, tornando-se o único e maior tesouro de sua vida. “Se alguém está em Cristo é uma mova criatura. Passaram-se as coisas antigas” (2Cr 5, 17).

       Charles de Foucauld nasceu na França e viveu de 1858 a 1916. No dia 30 de outubro de 1886 se submeteu a vontade de Deus, ajoelhando e confessando os seus pecados. Experimentou uma alegria inexprimível, a alegria do Filho pródigo. Foi beatificado no dia 13 de novembro de 2005 pelo Papa Bento XVI.

       Seu testemunho e sua mística encantaram os seus seguidores no mundo inteiro, numa grande paixão e fascínio per Jesus de Nazaré, concretizado no amor e na solidariedade para com os que estão longe do convívio social, os pobres e excluídos, buscando na Eucaristia a força necessária para concretizar o projeto de amor. A partir da Eucaristia amou a humanidade inteira.

       O Beato Charles de Foucauld, indo habitar e levando a Eucaristia para os irmãos no Deserto do Saara, tornou-se o homem da ternura e da compaixão, com uma enorme vontade de ser amigo de todos, bons e maus, de amar a todos, indistintamente e ser de verdade o irmão universal. Toda sua vida foi um profundo ato de amor: “Tão logo que acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa, senão viver só para ele”.

       O caminho da contemplação e da oração deve ser o itinerário dos seus seguidores e admiradores. Ele sempre se colocou no último lugar, com sua vida em harmonia com o Evangelho, reservada e discreta, não se esforçando para converter ninguém, mas querendo fazer uma única coisa: “proclamar bem alto o Evangelho com a própria vida”.
A vida do Bem aventurado Charles de Foucauld, com seu martírio, no dia 1º de dezembro de 1916, não foi um valor em si mesmo. Mas foi conseqüente, com muitos motivos, ao entrar numa profunda sintonia com o Deus, na coragem do heroísmo profético, chamando nossa atenção para o conflito, porque mergulhar no Evangelho é mergulhar nos conflitos e nas tempestades (cf. Mt 14, 26-32).

       O grande mérito do Irmão Charles de Fuocauld foi viver o Evangelho no meio dos conflitos e das tempestades, distanciando-se da “bondade”, como era conhecida no seu tempo. Não se contentando e até se indignando com o anúncio do Evangelho que não satisfaz, não converte e não transforma. Procurou assemelhar-se a Jesus de Nazaré em tudo, sobretudo, na paixão e no calvário. Seu martírio foi conseqüência da sua opção pelo Evangelho e a justiça do Reino.
Charles de Foucauld traçou um caminho para os seus seguidores, propondo-lhes o caminho da cruz e do Evangelho. Portanto, ao ouvir algo do irmão querido, com sua vida e seus escritos, é impossível permanecer na indiferença. Ele nos conduz e nos arrasta ao seguimento de Jesus de Nazaré, seu “bem-amado no Senhor”.

       Cristo precisa de nós, não como admiradores, cheios de sentimentos, mas como seguidores. Que a voz profética deste irmão muito querido não cale jamais e que as pessoas de boa-vontade se inspirem no Irmão Universal para descobrir o caminho da contemplação e da oração, o caminho de Deus, tão bem percorrido pelo querido irmão Carlos de Jesus, o irmão Carlos de Foucauld.
Pe Geovane Saraiva

Quando só sobra o corpo no mar da vida

J. B. Libanio
Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
Adital
O ser humano não tem um corpo, é seu corpo. A troca do verbo ter pelo ser leva-nos a refletir. Lá no longínquo passado, os romanos forjaram a expressão: "mens sana in corpore sano" (mente sadia num corpo sadio). Percebiam a unidade profunda entre ambos. E valorizavam o culto ao corpo nos exercícios físicos, na ginástica, nas guerras, nas lutas, no enfrentamento com as feras. As estátuas, que a arte dos romanos nos deixou, refletem beleza, vigor, robustez física.
A humanidade cultivou, ao longo dos séculos, ora mais, ora menos, a visibilidade e aparência corporal. O cristianismo, porém, lançou, por influência de certa filosofia grega que prezava, sobretudo, a alma e que chegou a ver o corpo como cárcere, suspeitas ascéticas sobre ele. Cobriu-o cada vez com mais roupas, de modo que a estética deslocou, em grande parte, para o todo da pessoa. Mesmo que alguém não tivesse o corpo bem formado, conseguia embelezá-lo com vestes luxuosas e assim despertar admiração.
As ondas culturais recentes jogam com a dupla faceta do corpo. Ora, exibem-no com sofisticados trajes de famosos figurinos, ora despedem-no para aparecer na estética escultural. Para isso, somam-se os esforços da frequência a academias, a especialistas em bodybuilding, a cirurgiões plásticos e ao uso de sofisticados cosméticos.
Na antropologia moderna, o ser humano se entende como corpo, alma e espírito. Pelo corpo, fazemo-nos presentes ao mundo. Pela alma, exprimimos os afetos. Pelo espírito, voamos para as alturas do Ser, do Mistério, do Transcendente. Essas três dimensões articulam-se na nossa única pessoa, mas não sempre na mesma proporção. Quando a balança pende para um dos braços, os outros se esvaziam.
A sociedade atual força o pólo do corpo. E, em alguns casos, a tal extremo que a afetividade se acanha e os arroubos do espírito se arrefecem. Andam corpos maravilhosos pelas ruas cobrindo a solidão do coração. Buscam pela aparência um outro/a, mas enganam-se. Quem vem a eles por esse chamariz sofre da mesma vacuidade. Vazio não enche vazio. Menos ainda sobram forças para alçar aos cimos espirituais. Rasteja-se no corpóreo sem conhecer alegrias puras e felicidade maior. Cabe redescobrir a harmonia da filosofia que só entende o corpo como mediação de encontros maiores do afeto e do espírito. Deles surgem energias que terminam por revigorar a própria corporeidade. Agora pela via da interioridade e da profundidade espiritual.
Triste experiência humana restrita aos cinco sentidos aos quais o corpo fala! Falta-lhe o calor da presença do outro para além dos sentidos na oferta da liberdade do amor. Só no jogo livre de amar, o corpo adquire a grandeza de ser presença-mediação e não cárcere narcisista. Nada prende tanto o ser humano a si mesmo como a fixação na aparência exterior. E, por sua vez, nada o lança tanto para a felicidade como o amor-dom, a única aventura que o realiza. Quando só sobra - atenção ao duplo significado do termo - o corpo no mar encapelado da vida, desaparece o sentido da existência e abrem-se as portas para a droga, a violência e os crimes.

UM NOVO HUMANISMO ALÉM DO SECULARISMO E DO INTEGRISMO


O ministro Ornaghi e a escritora Kristeva dialogam no Festival Bíblico de Veneza

VENEZA, segunda-feira, 28 de novembro de 2011 (ZENIT.org) - Um diálogo de alto nível intelectual aconteceu entre o novo ministro italiano da cultura, Lorenzo Ornaghi, e a escritora Julia Kristeva, no encontro "Sobre religião e laicidade na Europa", promovido pelo Festival Bíblico no Salão da Cultura Europeia, em Veneza, neste sábado (26), por iniciativa do Corriere della Sera e da Nordesteuropa.it.
"Sem o humanismo não podemos enfrentar os desafios futuros", afirmou Ornaghi, em sua primeira fala pública após a nomeação para o Ministério do Patrimônio Cultural.
"A presença da religião no âmbito público me parece hoje essencial para reforçar as características constitutivas da vida social, a qualidade do sistema democrático, o seu funcionamento normal, em vez de ser entendida como uma ameaça ao espaço secular da coisa pública. É possível conceber a participação dos crentes no debate público e a manifestação pública da sua fé como articulações diferentes de racionalidade, como expressões - para usar a fórmula de Habermas – de um ‘desacordo razoavelmente previsível’”.
Segundo o ministro, "o papel público da religião numa sociedade" pós-secular "não consiste na substituição da cada vez menos eficaz transcendência política. Pelo contrário, ela tem um papel "corretivo", um papel que se mostra ainda mais interessante quanto mais a fé e a razão estiverem num diálogo constante".
Por sua vez, Julia Kristeva falou em "ousar o humanismo " num novo diálogo entre a tradição secular e a religiosa: "O nosso encontro de hoje acontece depois de um evento de importância histórica considerável: o convite do papa Bento XVI a uma delegação de não-crentes, à qual eu pertencia, para o encontro ecumênico de Assis. Muito mais do que a nossa presença, foi o discurso do Papa na conclusão do encontro o que eu acho que foi um evento importante".
A escritora destacou a harmonia incomum entre crentes e não crentes que pode caracterizar a época atual “sem estigmatizar no humanismo secularizado um motivo de niilismo, ou uma ameaça para a civilização, como facilmente é feito por algumas correntes religiosas. Este papa filósofo convida os crentes a apreciar ‘o caminho para a verdade’ que é trilhado por essas ‘pessoas à procura’, que são os humanistas, em vez de considerar a verdade como uma ‘propriedade que lhes pertence’. Essa verdade como ‘luta interna’ e como ‘interrogação’, evocada por Bento XVI, é precisamente o que o humanismo cristão nos transmite, esse humanismo do Renascimento e do Iluminismo. Um humanismo produzido na Europa, interrompendo o fio da tradição religiosa (nas palavras de Tocqueville e Arendt). Um humanismo cuja refundação devemos constantemente empreender: não esquecendo os abusos do obscurantismo, mas esclarecendo a complexidade e a profundidade do legado que nos precede".
"Estamos conscientes de que não é possível uma economia sem uma robusta inventividade cultural e moral”, sublinhou, no discurso de abertura, Dom Roberto Tommasi, presidente do Festival Bíblico. “A experiência do nosso festival, na sua redescoberta da mensagem das Escrituras judaico-cristãs para a humanidade, é uma variação feliz no diálogo entre o humanismo cristão e secular".
Roberto Righetto, editor de cultura do periódico Avvenire, destacou, por sua vez, que o diálogo Kristeva-Ornaghi é um passo no caminho para "delinear um novo humanismo para hoje. Os totalitarismos revelaram que o progresso humano não se desenvolve num caminho linear, mas diante desta situação não se deve ceder à paixão de anulação. Lembrem-se de Albert Camus, definido por alguns como ‘um santo sem Deus’, que incitou os fiéis a não ceder ao mal, às pragas antigas e novas, sempre à procura de um renovado ‘exercício de piedade’".
O encontro entre o novo ministro e a pensadora francesa foi frutífero e útil na estratégia de "reestabelecimento do espírito europeu, duramente testado nesses tempos difíceis em que nos encontramos", concluiu Zovic Filiberto, editor da Nordesteuropa.it e promotor do Salão da Cultura Europeia.

A EVANGELIZAÇÃO DA VIDA CONSAGRADA -PE. AMEDEO CENCINI FALA ÀS RELIGIOSAS

Congresso destaca a complementariedade na Nova Evangelização

Por Maria Emília Marega
ROMA, terça-feira, 29 de novembro de 2011(ZENIT.org) – O Congresso “A Vida Consagrada e a Nova Evangelização- A imprescindível Complementariedade”, reuniu cerca de 150 religiosas de mais de 20 Congregações diversas. O Evento acontece todos os anos, com temas relevantes para a vida consagrada feminina, organizado pelo Ateneo Regina Apostolorum em Roma. “Como evangeliza a vida consagrada” foi o tema apresentado por  Pe. Amedeo Cencini.
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Pe. Amedeo Cencini é religioso canossiano, mestre em ciências da educação pela Universidade Salesiana de Roma e doutor em psicologia pela Universidade Gregoriana da mesma cidade. Especializou-se em psicologia no Instituto Superior de Psicoterapia Analítica. Escritor de vários livros, entre eles: “A árvore da vida”; “Virgindade e celibato hoje”.
“A vida consagrada é evangelização em si mesma, é uma bela e boa notícia”, com essas palavras, Cencini, iniciou sua participação no Evento. “A vida consagrada manifesta a Caritas do Eterno”, especialmente pelas obras de caridade direcionadas àquelas pessoas que vivem a “tentação de não se sentirem amadas”.
Pe. Amedeo utilizou a imagem da escada de Jacó, que está no livro do Gênesis, para explicar a dinâmica entre o céu e os homens, sendo os Consagrados responsáveis por este dinamismo e “os Institutos de Vida Contemplativa e os Institutos de Vida Ativa são complementares” nesta ação.
O movimento descendente seriam as ações caritativas, de assistência social, de educação realizada por estes Institutos, que revelam a face de Cristo. “O único desejo do homem é ver a face de Cristo e a vida consagrada responde a esse desejo”, afirmou Cencini.
Neste tempo histórico, a “Igreja pede para entrarmos na Nova Evangelização”.  E sobre como a vida consagrada é chamada a evangelizar hoje, Pe. Amedeo disse: - “Devemos recuperar a transparência interior” e prosseguiu indagando às participantes: “Vocês têm certeza de que o serviço executado por vocês revela a face do Pai?”.
“Os Institutos de Vida Consagrada devem continuar no serviço caritativo e sacramental”, mas é preciso “mostrar as raízes, de onde deriva a inspiração destes gestos de amor, onde está apoiada a escada”. E continuou: “Não basta apenas ser competente e cumprir os serviços caritativos”. “Existe o risco de que a caridade não seja evangelizadora”.
Pe. Amedeo falou dos serviços prestados, especialmente na área da educação, pelos Institutos Religiosos. “As pessoas gostam, mas os serviços são desfrutados e as questões fundamentais como a vida e a morte, são buscadas fora”. Não existe mais aquela “relação automática entre obra e evangelização”.
“Uma obra é evangélica quando provoca no coração de quem recebeu a ação o mesmo desejo de servir”, afirmou Cencini. Ele continuou sua reflexão falando sobre a importância de ser transparente e de mostrar a estrada que leva ao encontro com Cristo, através dos diversos Carismas. “Cada carisma propõe uma via autêntica, uma estrada para ver Deus, e indicar a estrada significa evangelizar”- e continuou - “os Carismas são culturas que devem penetrar nas outras culturas”.
Pe Amedeo falou sobre a Espiritualidade dos Institutos , como um dom de Deus, ou seja, é universal. A Espiritualidade foi inspirada pelo Espírito Santo e promove relação, “não é somente a oração, ou falar de oração como prática a ser executada”, mas promover e estabelecer relação.
No final do Evento Pe.Amedeo respondeu ao ZENIT - Como seria, na prática, entrar nas outras culturas?
É um grande projeto. Primeiro, é necessário entender a própria cultura, a própria língua, e ser apaixonado por ela. É preciso estar atento à realidade que se evangeliza,entender a linguagem atual, os meios utilizados pelos jovens, por exemplo, a internet; compreender a sensibilidade da sociedade, que tem perspectivas, desejos. Não estar fechado em si mesmo por medo; se tem medo do homem, tem medo de Deus. Nada que é humano é estranho.
O Congresso contou com a participação do Prof. German Sánches, leigo consagrado do Regnum Christi, diretor do Instituto Superior de Ciências Religiosas do Regina Apostolorum de Roma, que explicou a origem da expressão Nova Evangelização; do bispo de Palestrina, Mons. Domenico Sigalini, apresentando o cenário da nova evangelização para a vida consagrada na Itália; e de Pe Fábio Ciardi, membro da Congregação dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada, que falou sobre a força do Carisma na Nova Evangelização.
O evento prosseguiu com a celebração da Santa Missa e a participação do Prefeito da Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Dom João Braz de Aviz, que celebrava 39 anos de sua ordenação sacerdotal naquele dia.
A Ata do Congresso será publicada e entregue ao novo Dicastério para Promoção da Nova Evangelização, na pessoa do Monsenhor Rino Fisichella.