Padre
Geovane Saraiva*
A
vida do Bem-aventurado Charles de Foucauld, com seu martírio, no dia 1º de
dezembro de 1916, não foi um valor em si mesmo. Mas foi consequente, com muitos
motivos, ao entrar numa profunda sintonia com o Deus, na coragem do heroísmo
profético, chamando nossa atenção para o conflito, porque mergulhar no
Evangelho é mergulhar nos conflitos e nas tempestades (cf. Mt 14, 26-32)
Da
incredulidade, indiferença, egoísmo e impiedade, caiu nas mãos de Deus. Foi
arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, tornando-se o único e maior tesouro
de sua vida. “Se alguém está em Cristo é uma mova criatura. Passaram-se as
coisas antigas” (2Cr 5, 17). Charles de Foucauld nasceu na França e viveu de
1858 a 1916. No dia 30 de outubro de 1886 se submeteu a vontade de Deus,
ajoelhando e confessando os seus pecados.
Experimentou
uma alegria inexprimível, a alegria do Filho pródigo. Foi beatificado no dia 13
de novembro de 2005 pelo Papa Bento XVI. Seu testemunho e sua mística
encantaram os seus seguidores no mundo inteiro, numa grande paixão e fascínio
per Jesus de Nazaré, concretizado no amor e na solidariedade para com os que
estão longe do convívio social, os pobres e excluídos, buscando na Eucaristia a
força necessária para concretizar o projeto de amor.
A
partir da Eucaristia amou as pessoas do mundo inteiro. O Beato Charles de
Foucauld, indo habitar e levando a Eucaristia para os irmãos no Deserto do
Saara, tornou-se o homem da ternura e da compaixão, com uma enorme vontade de
ser amigo de todos, bons e maus, de amar a todos, indistintamente e ser de
verdade o irmão universal. Toda sua vida foi um profundo ato de amor: “Tão logo
que acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa,
senão viver só para ele”.
O
caminho da contemplação e da oração deve ser o itinerário dos seus seguidores e
admiradores. Ele sempre se colocou no último lugar, com sua vida em harmonia
com o Evangelho, reservada e discreta, não se esforçando para converter
ninguém, mas querendo fazer uma única coisa: “proclamar bem alto o Evangelho
com a própria vida”.
O
grande mérito do Irmão Charles de Fuocauld foi viver o Evangelho no meio dos
conflitos e das tempestades, distanciando-se da “bondade”, como era conhecida
no seu tempo. Não se contentando e até se indignando com o anúncio do Evangelho
que não satisfaz, não converte e não transforma. Procurou assemelhar-se a Jesus
de Nazaré em tudo, sobretudo, na paixão e no calvário. Seu martírio foi consequência
da sua opção pelo Evangelho e a justiça do Reino.
Charles
de Foucauld traçou um caminho para os seus seguidores, propondo-lhes o caminho
da cruz e do Evangelho. Portanto, ao ouvir algo do irmão querido, com sua vida
e seus escritos, é impossível permanecer na indiferença. Ele nos conduz e nos
arrasta ao seguimento de Jesus de Nazaré, seu “bem-amado no Senhor”.
Cristo
precisa de nós, não como admiradores, cheios de sentimentos, mas como
seguidores. Que a voz profética deste irmão muito querido não cale jamais e que
as pessoas de boa-vontade se inspirem no Irmão Universal para descobrir o
caminho da contemplação e da oração, o caminho de Deus, tão bem percorrido pelo
querido irmão Carlos de Jesus, o irmão Carlos de Foucauld.
*Padre da
Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos
Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de
Fortaleza.
Pároco de
Santo Afonso
Autor
dos livros:
“O
peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder
Câmara);
“A
Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A
Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).
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