05/11/2012

«Tema do perdão é o mais desconhecido na Igreja católica»


MUNDO
Projeto de sucesso na América Latina chega a Portugal
«Tema do perdão é o mais desconhecido na Igreja católica»
Texto Francisco Pedro | Foto Francisco Pedro | 05/11/2012 | 07:15
Leonel Narváez, missionário da Consolata, criou as Escolas do Perdão e Reconciliação
É possível perdoar ao nosso maior inimigo? E aceitar a reconciliação com quem um dia nos magoou? O padre colombiano Leonel Narváez acredita que sim. E tem provas disso
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As Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), que fundou há 12 anos, já ajudaram a resolver milhares de conflitos pessoais na América Latina. O projeto chega agora a Portugal, por iniciativa dos Missionários da Consolata, e a ideia é expandi-lo pela Europa.
A história é dramática, mas tem um final feliz. Há uns anos, numa pequena cidade da Colômbia, a beleza de uma jovem com pouco mais de 20 anos, atraiu a atenção de um homem. Levado pela cegueira da paixão, perseguiu-a, tentou seduzi-la e pediu-a em namoro. Sem resultado. A rapariga, mãe solteira, disse-lhe sempre que não. Até que um dia, quando passeava o filho, de três anos, o homem voltou a abordá-la na rua, com nova proposta de namoro. Mais uma vez, disse que não. E prosseguiu a marcha. Minutos depois, ouviu três tiros de revólver. E o menino caiu inanimado no chão. O seu pretendente acabara de o matar, enraivecido pela rejeição. O homem foi preso e condenado a pena de prisão. A jovem, ferida nos sentimentos, acabou por ir parar a um curso de perdão e reconciliação. Depois das primeiras aulas, ganhou coragem e foi visitar o assassino. Após várias visitas, apaixonou-se, perdoou-lhe e casou com ele. Hoje, têm um filho em comum. 

Este é apenas um dos muitos exemplos que Leonel Narváez, missionário da Consolata, recolheu ao longo dos últimos 12 anos, a trabalhar com as Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), que fundou na Colômbia, a partir da sua experiência como sacerdote, teólogo, filósofo e sociólogo, na reintegração de ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O projeto já lhe valeu o Prémio Unesco para a Paz, em 2006, e conquistou a adesão de mais de 40 mil pessoas na América Latina. Agora, chegou a vez da implantação em Portugal, como porta de entrada para a Europa. Narváez deu duas conferências, em Lisboa e Porto, em outubro, e deixou construídos os alicerces para a constituição das primeiras turmas de candidatos ao exercício do perdão e reconciliação. Numa altura em que se agrava o clima de tensão económica e social e se antevê o aumento da violência, esta proposta surge como um oásis de esperança no nosso país e, no futuro, também noutras nações no velho continente. 

“O tema do perdão e reconciliação, primeiro que tudo é um exercício pessoal. De experimentar o amor e a presença de Deus que nos habita. No fundo, é a essência da mensagem de Jesus”. Porém, “é escandalosamente o mais desconhecido na Igreja católica, possivelmente porque se converteu num monopólio dos sacerdotes e dos bispos”. Neste sentido, o projeto procura também recuperar uma certa “ignorância” da Igreja em relação “à teoria e metodologia do perdão e da reconciliação”, disse Leonel Narváez à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

“Um pobre com raiva é pobre duas vezes. Ao contrário, quem consegue entender as tragédias da vida com otimismo e alegria, consegue sair com mais facilidade dos maus momentos. O convite que faço a Portugal e à Europa, que estão nesta fatalidade económica, é que criem saídas otimistas e solidárias para superar a pobreza e o desastre financeiro”, sublinhou o sacerdote.

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