14 de agosto de 2013
Oração
gratulatória pronunciada pelo Pe. José Fernandes de Oliveira, na solene
concelebração eucarística dos vinte e cinco anos de ministério sacerdotal do
Pe. Francisco Geovane Saraiva Costa. Pároco da Paróquia Santo Afonso de Ligório
– Parquelândia.
José Fernandes de Oliveira (Pe. José Luis)*
Não são poucos, dentre os irmãos presbíteros, os
que se alegram por ter como amigo o Pe. Geovane Saraiva, sacerdote tão zeloso
quanto exemplar. E, com justa razão, porque ele, de fato, bem o merece. Por
isso, qualquer um deles bem que poderia ter sido escolhido para, neste momento
de rara emoção, proferir a homilia desta solene concelebração eucarística de
ação de graças pelos seus vinte e cinco anos de ministério sacerdotal. Não sei
por que coube a mim este privilégio. É bem verdade que nos une uma amizade de
irmãos que se vem enraizando já de muitos anos.
Nesta solene concelebração eucarística não me
parece fora de propósito recordar que o sacerdote é uma pessoa chamada por
Cristo, porque é Ele quem toma essa iniciativa - não fostes vós que me escolhestes;
mas eu vos escolhi - e, por isso, a história da vocação de cada sacerdote tem
muito semelhante com a vocação dos apóstolos. Na verdade, as diferentes
circunstâncias do chamamento dos apóstolos indicam a precisa realização de
escolhas bem determinadas, independentemente do contexto existencial de cada
um.
Desse modo, a peculiaridade do chamamento para o
sacerdócio ministerial na Igreja constitui o que há de mais interessante na
história pessoal de cada sacerdote, porque não foi o acaso que o trouxe para
esse lugar social na Igreja. Ao contrário, a decisão de atender ao chamado de
Cristo assinala o momento mais importante do uso de sua própria liberdade, que
pensou, refletiu, quis e decidiu, provocando a grande e definitiva escolha da
própria vida.
Por isso, caríssimo Pe. Geovane, neste dia de
solene ação de graças, você não pode deixar de lembrar a página mais bonita de
sua história, a da sua vocação sacerdotal. Nela está escrito o seu “sim”: o qual,
num só momento, o separou de tudo - e, atracando as barcas a terra, deixaram
tudo e o seguiram firmado no propósito de colocar toda a sua vida a serviço
da Igreja como ministro de salvação com Cristo e como Cristo.
Nesta belíssima página se encontra o registro do desígnio
divino sobre sua pessoa, amada de
Cristo. Diante do olhar amoroso de Jesus, que o
chamava para fazer parte do grupo mais intimo de seus amigos, você, com justa
razão, deram vistas largas a tantos outros caminhos que bem poderiam ter obscurecido
aquele olhar de amor de Cristo que o chamava para um caminho, quem sabe mais
espinhoso, mas, com certeza, mais cheio de graças. E você se deixou contaminar
por aquele olhar de pureza, de carinho, de afeto, que fez de você um amigo do
Senhor Jesus - já não vos chamo de servos. Chamo-vos de amigos.
Agora, vinte e cinco anos depois de amizade
profunda Àquele que nos ama por primeiro, certamente terá tempo suficiente para
repassar diante dos olhos toda a história desse chamado divino, ou seja, a
forma, a medida e a duração das dificuldades de diversos matizes que teve de
superar, as grandes alegrias vividas, os sucessos obtidos, as graças recebidas,
as pessoas que o ajudaram e ainda ajudam, e também aquelas que lhe trouxeram
sofrimento e, quem sabe, ainda lhe trazem. Mas sempre fica a certeza de que
Cristo, o Bom Pastor, se manteve ao longo de todo esse decurso de tempo,
sorrindo e olhando para você por causa do seu amor generoso à pessoa dEle e
porque sabia ter sido aquele sim de vinte e cinco anos atrás a oferta generosa
de uma pessoa que o amava mais que todas e carregava o propósito de uma fidelidade
sem medidas à missão de ser Ele próprio no seio de suas ovelhas. Depois daquele
"sim" brotou um homem sabedor de suas fraquezas, mas também sabedor
da coragem de Cristo que se derramou sobre você para se tornar aguerrido
defensor da doutrina de Jesus Cristo que Ele confiou à sua Igreja.
Chamado por Cristo, o sacerdote torna-se mestre da
Palavra de Deus, sempre atento à sua voz que lhe chega aos ouvidos através do
magistério ordinário e extraordinário da Igreja, mas também mestre do Povo de
Deus que o convoca para o zeloso cumprimento de seus deveres de Pastor e para o
atendimento espiritual a que tem direito por força do sacramento do batismo.
O apóstolo Paulo, na sua primeira Carta a Timóteo,
com poucas palavras, faz o elogio daqueles que procuram tornar-se mestre dos
ensinamentos de Cristo e não dos próprios ensinamentos, quando afirma: Os que
exercem bem o ministério recebem uma posição de estima e muita liberdade para
falar da fé em Cristo Jesus.
Sua vida de sacerdote, estimado Pe. Geovane tem
sido um atestado público de sua preocupação no exercício do seu ministério
pastoral de estar sempre atento à voz de Deus, na piedosa escuta e no rigoroso
e aplicado ensinamento da doutrina de Cristo, que nos vem pelo magistério da
Igreja. Você nunca escondeu de ninguém o seu empenho de caminhar sempre junto
ao magistério do Papa e dos bispos. E, assim tem feito para se sentir certo de
que, evangelizando os fiéis colocados sob a sua responsabilidade de Pastor, o
faz não com a sua verdade, mas com a verdade de Cristo. E é desse caminhar
sempre junto com o magistério da Igreja, que é o mesmo que está junto a Jesus
Cristo, de onde provém sua liberdade para falar da fé em Cristo Jesus jamais
excluindo o dever de escutar os fiéis nem de lhes negar o direito de serem
ouvidos.
E, assim, nesses vinte e cinco anos de pastoreio do
Povo de Deus numa doação de vida que passa pela celebração piedosa dos
mistérios da nossa fé, depois de tanto tempo dedicado às mais diversas atividades
pastorais, Deus lhe reserva ainda terrenos que hão de ser fertilizados com a
generosidade do seu trabalho para que o dom da salvação se torne realidade para
muitos.
Nesses abençoados vinte e cinco anos de ministério
sacerdotal, você tem sabido ajuntar com maestria espiritual sua disponibilidade
sem medida no atendimento espiritual de quantos o procuram, agindo sempre como
mestre, amigo, conselheiro, portador do perdão, da bondade, da justiça e da misericórdia
de Deus; agindo como distribuidor da graça sacramental e da celebração da
Eucaristia, consumindo-se na dedicação total, de tal maneira a poder afirmar de
si mesmo, sem falsear a verdade nem se deixar conduzir pela vanglória, as
palavras de São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios: tornei-me tudo para
todos.
E, porque nada do que você tem feito até agora e
continuará fazendo em prol do Reino de Deus, pode ser feito sem o estudo e a
oração, você, caríssimo Pe. Geovane tem sabido ser um homem de oração constante
sempre em busca de um maior aprofundamento no conhecimento de Jesus, procurando
tão somente a honra de Deus e a salvação das almas.
Consciente de seu múnus de pastor, você, caríssimo
irmão, não tem feito outra coisa se não comunicar a todas as pessoas de boa
vontade o mistério salvífico de Cristo. E por isso que no seu ministério
sacerdotal não transparece sua atividade humana apenas, mas a força divina que
opera em favor de todos que encontram em Jesus Cristo a razão de sua existência.
Daí o sentido sacramental do apostolado ministerial que faz do sacerdote não
apenas o presidente do momento religioso da comunidade, mas o ministro
indispensável e exclusivo do culto realizado in Persona Christi e, ao menos tempo, in nomine populi, na feliz expressão do Papa Paulo VI. Parafraseando
o Papa Paulo VI, posso dizer que o nosso caríssimo Pe. Geovane tem sido e
continuará sendo ainda, testemunha qualificada da fé, autêntico comunicador do
Evangelho, que sabe usar com maestria os meios modernos de comunicação, profeta
da esperança, ponto de referência da comunidade na construção do Reino de Deus,
no exercício da caridade, na aceitação da vontade de Deus, na alegria e no sofrimento,
na amizade sincera e verdadeira, na consolação dos aflitos, o amigo de todos.
O implacável caminhar dos anos ainda está cedo para
fragilizar sua fortaleza interior e espiritual, entregando-se totalmente ao
serviço da Igreja, a quem serve e haverá de servir até que o bom Deus o
permita, seja no uso da pregação homilética, seja na publicação de livros de
saborosa leitura pela linguagem simples e escorreita, onde se encontram
registradas vidas de grandes e corajosos missionários, tais como Helder Câmara,
Aloísio Lorscheider e Antônio Fragoso, seja em artigos publicados na imprensa escrita,
onde discorre com maestria na denúncia de tantos males que corroem a sociedade
hodierna, ao mesmo tempo tão afastada de Deus e desejosa de tê-Io em seu meio.
Por tudo isto, nós louvamos e bendizemos ao Senhor
pelo dom do sacerdócio ministerial concedido ao Pe. Geovane para apascentar o
rebanho de Deus, velando por ele, não constrangido, mas de boa vontade; não por
um sórdido espírito de lucro, mas com dedicação; não como dominador sobre os
que lhe têm sido confiado, mas como modelo do rebanho, seguindo com acurado
rigor a admoestação de São Pedro, na sua primeira carta.
Permita-me, Pe. Geovane, concluir com quatro
lembretes:
+ O sacerdote não é um intermediário entre Deus e
os homens ou entre Cristo e os homens. É um homem no qual Cristo, único
Mediador, cumpre ininterruptamente e atualmente a função de salvação que
reservou aos apóstolos;
+ O ministério presbiteral é um valor que somente o
crente pode perceber na proporção de sua fé;
+ O carisma sacerdotal compromete a quem o recebe a
viver sempre mais unido a Cristo para ser sinal persuasivo de sua presença
salvífica na Igreja para os homens e mulheres do nosso tempo; a colocar a graça
de seu Espírito na base do seu viver e do seu agir; e a extrair do exercício do
seu ministério alimento para sua vida espiritual e pastoral;
* A fidelidade sem reserva ao magistério da Igreja,
a obediência amorosa ao Papa e ao próprio bispo, o amor a Maria Santíssima e
seu castíssimo esposo São José, a devoção eucarística a coerência em viver o que
ensina e ensinar o que vive a celebração piedosa da Santa Missa, o saber ouvir
para ter sempre uma palavra que estimula e encoraja, a intimidade com a Palavra
de Deus, a fraternidade sacerdotal, tudo isso é a base para se amar Cristo no
irmão, ser construtor de um mundo fraterno e solidário, a fim de Cristo seja
tudo em todos.
* Pronunciamos, nesta noite santa, palavras e
conceitos que saíram do nosso coração e, por isso, guardamos a certeza de não
terem sido ditas por razões de ocasião. Antes, espelham a personalidade deste
sacerdote, assinalado por uma fortaleza de gigante espiritual que se sente
feliz na consumação de uma doação contínua e exemplar a Cristo e sua Igreja por
quem é capaz de se dar todo a cada momento e sem reserva. Cristo, o sumo
sacerdote, a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e de seus ministros, São José, Santo
Afonso Maria de Ligório e os santos de sua devoção particular estejam sempre
com você, agora e sempre.
*Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza
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