06/10/2013

Nas pegadas do pobrezinho de Assis


Assis esperou quase 800 anos pela visita de um Papa com o nome daquele que tornou a cidade um símbolo de paz para o mundo. A primeira visita a Assis de um Pontífice com o nome Francisco chamou a atenção nesta sexta-feira da mídia mundial, presente em massa na cidadezinha da Úmbria que deu ao mundo um dos seus filhos que se tornou predileto. Papa Bergoglio foi até lá como peregrino, como tantos outros que de todas as partes de mundo vão àquele pequeno pedaço de paraíso para encontrar, rezar e conhecer melhor o jovem Francisco, que deixou tudo por causa de um amor maior, o amor pelo Evangelho de Cristo. 

O homem que veio “quase do fim do mundo” entrou na cidade como um peregrino para encontrar e rezar diante do túmulo do inspirador de seu pontificado: Francisco. Significativo o momento de oração na cripta da Basílica inferior diante do túmulo onde repousam os restos mortais do “mendigo de Deus”. Momento precedido pelo encontro com os últimos, os pobres e necessitados, retrato daqueles que Francisco 800 anos atrás ajudava, consolava e dava dignidade. Passaram-se 8 séculos mas o grito dos pobres e dos necessitados, continua o mesmo. 

Na sede do episcopado, na Sala da Espoliação de São Francisco – a primeira visita de um Papa àquele local onde Francisco deixou tudo, resolveu casar-se com a Dama Pobreza – Bergoglio falando a um grupo de pessoas assistidas pelas Caritas diocesanas da região fez um convite à Igreja, convite que repete com frequência, de se espoliar, acrescentando que todos somos Igreja, não são só padres e freiras, mas todos. “Se quisermos ser cristãos, não há outro caminho. Sem a cruz, sem Jesus, sem espoliação, - disse - seremos cristãos de ‘confeitaria’”, ou seja, belos, mas não verdadeiros. Mas o Papa não deixou de afirmar que muitos já foram espoliados e continuam sendo espoliados por este mundo selvagem que não dá emprego, que não ajuda, “ao qual não importa se existem crianças que morrem de fome, não importa se muitas famílias não têm o que comer, se tantas pessoas têm que fugir da escravidão, da fome, e fugir em busca de liberdade”. E quanta dor - disse ainda Francisco - quando vemos que encontram a morte, como aconteceu em Lampedusa nesta quinta-feira. “Hoje, é um dia de lágrimas. É o espírito do mundo que faz essas coisas”, explicou.

Pelas ruas da cidadezinha onde São Francisco caminhou, outro Francisco passou o dia entre a Cripta na qual repousam os restos do Santo e a Porciúncula dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos, onde São Francisco morreu no dia 3 de outubro de 1226. O Pontífice visitou ainda grande parte dos lugares franciscanos seguindo as pegadas daquele do qual tomou o nome. Foi a visita de um Papa moldado na espiritualidade de Santo Inácio, e com um coração e radicalidade franciscanas. 

Uma visita que Bergoglio fez com viva e transparente emoção; uma alegria estampada em um rosto que não se cansa de iluminar caminhos, uma alegria que explode no coração de todo peregrino que vai a Assis e vislumbra os lugares que Francisco percorreu, lugares admirados em fotografias e cartões postais, por muito tempo sonhados; lugares sugestivos que deixam marcas profundas. Marcas que, certamente, ficaram no coração do Papa Francisco.

Bergoglio tocou a terra da cidadezinha de São Francisco e certamente seu pensamento correu também para os seus pobres de Buenos Aires e para os pobres do mundo inteiro. O seu coração foi até aqueles últimos e - com os joelhos dobrados diante do túmulo de São Francisco - pediu por eles, pela sua dignidade de seres humanos e pela paz no mundo, desejos que expressa em todas as ocasiões possíveis.

O Francisco latino-americano foi ao encontro do Francisco italiano, europeu, do Francisco dos homens de boa vontade e de paz; porque São Francisco não é só dos católicos, mas de todos que vêem neste pequenino-gigante da fé um símbolo de amor pelo próximo e por todas as criaturas viventes.

Bergoglio esteve face a face com o homem da Irmã Pobreza, da Irmã Morte, que por um estranho e misterioso desígnio da Divina Providência foi chamado, em tempos e modos diferentes, a reconstruir, fortificar a Casa do Senhor. Um compromisso que o Sucessor de Pedro decidiu assumir totalmente quando tomou o nome Francisco - o Cardeal Hummes recordou-lhe para não se esquecer dos pobres -, primeiro na história da Igreja. 

O nome de um dos Santos mais populares da Igreja também é a marca do seu pontificado; um nome que é programa de vida, inspiração para decisões não fáceis. Um nome que aproxima ainda mais o Papa dos fiéis, e não fiéis, dos mais necessitados, e que dá um novo rosto a uma Igreja para muitos cansada e sem estímulos. Sinais significativos foram dados por Bergoglio nesses quase 7 meses de pontificado, sinais de um novo tempo. Em Assis, na casa do Irmão da pobreza, Francisco reafirmou o seu ideal de Igreja, pobre, próxima dos homens e santa, como Santo é seu Esposo. Uma Igreja sonhada também por João Pedro de Bernardone, para muitos apenas Francisco de Assis. (Silvonei José)


do site da Rádio Vaticano 

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