23/11/2014

Simpósio internacional reúne pesquisadores do Padre Cícero


As pesquisas tentam responder o que representa uma das figuras mais polêmicas da nossa história










Image-1-Artigo-1745893-1
A cada ano, a fé no Padre Cícero cresce, aumentando a curiosidade sobre ele


Image-0-Artigo-1745893-1
Os debates se estenderam por toda a semana com oficinas, mesas-redondas, lançamentos de livros, grupos de estudos, apresentações culturais, vivências nos espaços de peregrinação como o Horto e conferências

FOTOS: ELIZÂNGELA SANTOS


Juazeiro do Norte. Uma semana dedicada a estudos sobre o Padre Cícero para responder ao questionamento “E… Onde está ele?”. A busca levou à realização, dez anos depois, da IV edição do Simpósio Internacional sobre o sacerdote. Centenas de estudiosos do Brasil e exterior se debruçaram no aprofundamento dos debates, iniciados com as três primeiras edições, desde 1988, e que abre espaço na academia para as análises de pesquisas e estímulos aos novos trabalhos. O processo tem sido crescente na intenção de responder o que representa um dos homens mais polêmicos da história do Brasil, responsável pela transformação de vidas e também de cidades na região do Cariri, onde teve sua influência mais direta, principalmente Juazeiro. O processo de reabilitação não deixou de ser um dos pontos debatidos. Para a presidente de honra do simpósio, a irmã Annette Dumoulin, belga que veio para o Juazeiro acolhida pelas romarias e a história do sacerdote, diz que atualmente a questão não é mais problema para o Vaticano. Para ela, o que falta é a união do clero na região em torno da causa do Padre Cícero.


Os debates se estenderam por toda a semana com oficinas, mesas redondas, lançamentos de livros, grupos de estudos, apresentações culturais, vivências nos espaços de peregrinação como o Horto e conferências. Os eixos temáticos estiveram em torno do Contexto Histórico, Os Personagens, A Beata Maria de Araújo e, na última sexta-feira, último dia de realização, Padre Cícero e o Cariri, onde ocorreu análise da relação do Padre Cícero com a região do Vale do Cariri no espaço e no tempo.


O I Simpósio Internacional sobre o Padre Cícero aconteceu em 1988 e refletiu sobre o Padre Cícero e os Romeiros de Juazeiro do Norte; o segundo aconteceu em 1999 e falou sobre Juazeiro do Padre Cícero e a Beata Maria de Araújo: um contexto de milagre; no terceiro, realizado em 2004, o tema debatido foi Padre Cícero do Juazeiro: E? quem é ele?. Todos com características voltadas para temas e que muitos deles chegaram a ser importantes na quebra de tabus, para se falar em assuntos antes polêmicos, como o milagre protagonizado pela Beata Maria de Araújo, com o sangramento da hóstia em sua boca, ofertada pelo Padre Cícero. Os debates foram tratados a partir de tese de mestrado defendida pela pesquisadora paulista, Maria do Carmo Pagan Forti.


As oficinas do simpósio estiveram voltadas para a valorização da cultura, que teve o Padre Cícero como um dos grandes estimuladores, como os reisados e artesanatos. Nesse contexto, foram realizadas as oficinas voltadas também para ampliar os debates sobre a resistência dessas atividades culturais na região e a influência do Padre Cícero.


Uma das lutas que vêm sendo enfrentadas desde a romaria de setembro é quanto à fiscalização intensa ao transporte pau-de-arara, por conta da proibição da lei de trânsito ao tipo de transporte, que apresenta riscos aos passageiros pela falta de segurança. Tendo em vista a problemática, e que há muitas décadas o romeiro tem usado esse transporte para chegar até a cidade de Juazeiro, principalmente vindos das comunidades mais pobres do Norte, foi assinada uma carta de adesão dos participantes, a pedido da irmã Annette Dumoulin, da análise por parte dos poderes, para que essa questão tenha a lei revista e modificada, em favor dos romeiros.


O evento foi uma realização da Universidade Regional do Cariri (Urca), por meio da Pró-Reitoria de Extensão, além da parceria da Diocese do Crato, Geopark Araripe e vários órgãos apoiadores, como as secretarias de Cultura de Crato e Juazeiro do Norte. Uma feira cultural foi realizada durante o simpósio, com apoio do Sebrae. Os lançamentos de edições voltadas para a cultura regional e religiosidade foram realizados no auditório montado no Cariri Garden Shopping. Na quinta-feira, 44 personalidades da região do Cariri ligadas a diversos setores incluindo cultura, pesquisa, religiosidade, comunicação, dentre outros segmentos, foram homenageadas com um certificado de honra ao mérito, pelos serviços prestados em prol da preservação da memória do Padre Cícero e cultura da região do Cariri.


Para a reitora da Urca, Otonite Cortez, a academia tem uma importância fundamental na contextualização e promoção dos estudos. Ela ainda ressaltou a figura do Padre Cícero como principal artífice de transformação de Juazeiro do Norte. Segundo ela, a pergunta feita para o simpósio está voltada para a busca de conhecer o principal personagem que transformou a história da região. “O Padre Cícero está no Vaticano aguardando a reabilitação e beatificação pela Igreja Católica?”, questiona. Conforme Otonite, o evento poderá dar um direcionamento para essa pista.


A pesquisadora Luitgarde Barros, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), há mais de 40 anos realiza estudos na área, e participou de mesa-redonda e palestra junto com a pesquisadora norte-americana Candace Slater, que por vários anos morou no Horto e pesquisou sobre o romeiro. Além de Marcelo Camurça, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os escritores e pesquisadores, Renato Casimiro e Daniel Walker, entre outros estudiosos da Urca, como as professoras doutoras Renata Marinho Paz e Paula Cordeiro, contribuíram para os debates com importantes estudos desenvolvidos nas diferentes temáticas, que se alinhavam em torno do questionamento principal. “A meta principal foi reunir todos esses assuntos, no intuito de entrelaçar uma rede de discussões com eixos voltados para a temática central”, diz a historiadora da Urca, Fátima Pinho, que fez pesquisa ampla sobre as publicações na imprensa dos fatos ligados ao Juazeiro do Norte e mais especificamente à beata Maria e Araújo e à repercussão do milagre da hóstia na imprensa brasileira. O sua pesquisa, inclusive, foi considerada importante e ampla para pesquisadores presentes.


O bispo diocesano do Crato foi representado pelo padre José Vicente Alencar da Silva, Vigário geral da Diocese. Ele transmitiu mensagem de dom Panico, que se encontra em Roma, e disse que o evento foi uma oportunidade de refletir sobre o Padre Cícero, presente na vida de milhares de pessoas, principalmente nos sertões nordestinos, extrapolando os limites da religiosidade.


A irmã Annette Dumoulin, considerada a “mãe dos romeiros”, abriu o evento com conferência sobre o tema central. Destacou o protagonismo dos romeiros. “Sem a teimosia deles, a fé que move as montanhas, não estaríamos aqui”, disse e acrescentou poder contar com pesquisadores. “São pessoas que querem procurar a verdade e é impressionante se ter quatro simpósios internacionais sobre o Padre Cícero”.


Mais informações:


Universidade Regional do Cariri (Urca)

Juazeiro do Norte

Pró-Reitoria de Extensão

Telefone (88) 3102-1244


Diário do Nordeste




http://goo.gl/aO8ibk

Nenhum comentário :

Postar um comentário